sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Monólogos com o meu Bispo - na fé e na vida (2)

Qual o maior desafio da Igreja?
No seu artigo “O maior desafio feito à Igreja” (publicado no Correio do Vouga em outubro de 2011) D. António Marcelino imagina-se a questionar os muitos cristãos, leigos e clérigos que poderia interpelar directamente, dos mais diferentes meios, idades e, eventualmente também, vivência e fé (mesmo que esta seja de complexa avaliação e quantificação) sobre qual seria o maior, mesmo o maior, o principal desafio que a Igreja enfrenta hoje. Face à dificuldade de interacção entre o papel de jornal e quem lê o artigo, D. António Marcelino menciona algumas das prováveis respostas que, com clara certeza, esperaria ouvir: a crise vocacional; o enfraquecimento da família; a falta de diálogo e de tolerância; a intervenção no mundo e nas culturas emergentes; as estruturas pastorais; o futuro dos jovens; acrescentando eu, face aos acontecimentos mais recentes no Vaticano, a imagem da estrutura da Igreja.
D. António Marcelino, não desvalorizando qualquer um destes aspectos, no seu entender revela-nos que o maior desafio (se estiver correcta a minha percepção e leitura do texto) da Igreja será a debilidade da fé e a sua expressão viva no dia-a-dia.
Como D. António Marcelino refere “não existem meios técnicos que permitam medir a autenticidade e a verdade da fé das pessoas”.
E ainda bem porque a fé não pode, nem deve ter um valor quantificável. Ela é expressão do caminho (interior e exterior) que cada um faz, que cada um tem a oportunidade de viver e partilhar. Como refere, a prova final será o julgamento divino no fim da nossa vida.
Mas pegando na “partilha” que referi, permita-me meu caro Bispo, denominar o que entendo ser o maior desafio da Igreja nos dias de hoje: a própria Igreja. A vivência de uma fé individualizada (mesmo que não quantificável e respeitada nas suas mais distintas manifestações) retira-lhe dimensão e expressão.
Uma fé que não se quer débil ou frágil, que se espera forte e consistente dia após dia, deve ser vivenciada em comunidade, em Igreja. Mas uma Igreja que tem de abrir os seus espaços, que tem de estar atenta aos sinais dos tempos, que deve estar à frente das necessidades e das solicitações dos seus crentes, que deve ser partilha, sentido de união, solidariedade, crítica, interventiva, e, acima de tudo, deve ser Missão de Cristo na sociedade que a envolve, nas famílias, no trabalho, no ensino, na política, na cultura e no desporto. Uma Igreja que, ao fim de 50 anos de Concílio Vaticano II, tal como o meu Bispo, referiu durante vários meses, em diversos artigos, tem de deixar de ser tão clerical, tão fechada, tão alheada dos verdadeiros problemas e desafios dos seus crentes… uma Igreja que se quer, teológica e verdadeiramente, de Libertação.
Se este desafio não for alcançado, se a missão evangelizadora da Igreja não estiver presente no nosso dia-a-dia iremos encontrar igrejas vazias, diminuição da participação nas comunidades, na estruturas, menos vocações, menos casamentos católicos, mais vivências individuais da fé em função das necessidades e dos momentos.

Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

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