Preparar comunidades missionárias.
Meu caro Bispo, D. António Marcelino
O espírito missionário, para além da sua essência, é um
verdadeiro mistério vocacional. Um dos alicerces mais importantes para a missão
da Igreja: evangelizar. Mas nada há mais difícil que escutar frases como “vem,
deixa tudo o que tens e segue-Me” ou “… espalhai a Boa Nova”. A primeira “atenta”
ao nosso comodismo e bem-estar, a segunda interfere com a nossa coragem em
enfrentar, publicamente, as barreiras à mensagem de Cristo e da Igreja. Ou
seja, são cada vez mais raras estas realidades vocacionais.
Meu caro Bispo, D. António Marcelino, este é, de forma muito
linear, o meu entendimento sobre o tema do seu texto “Sempre em Missão, ao perto ou ao longe”, do
passado dia 12 de setembro.
O primeiro aspecto que gostaria de realçar é relação do
sentido missionário e evangelizador, seja em que realidade for (comunidade, família,
emprego, em missão, em congregação), com o texto do evangelho de S. Marcos (Mc
7, 31-37) da liturgia da celebração eucarística do 23º Domingo do Tempo Comum
(9 de setembro). A passagem bíblica relata o episódio da cura do surdo-mudo.
Testemunhos nos evangelhos de realidades como esta são vários: coxos, doentes,
leprosos e até mesmo mortos, como Lázaro, etc. Mas há, no entanto, um aspecto,
um pormenor relevante, que faz a diferença deste episódio para os outros
semelhantes. Jesus não se limita a tocar ou a ordenar que caminhe, que fale,
que acorde, que oiça. Jesus, no caso do surdo-mudo é muito mais concreto, mais
específico e, se quisermos, muito mais exigente. No limite… “cobra” o milagre.
Dirige-se ao homem e disse-lhe: “Abre-te”. Não disse um simples, fala e ouve.
Foi mais longe… abre os teus ouvidos à minha palavra, liberta a tua língua para
espalhares a minha mensagem e seres minha testemunha. Era este o compromisso
por o ter curado.
E é este o compromisso que deve orientar o sentido
missionário e evangelizador, na sua plenitude: abrirmo-nos a Deus, ouvir o Espírito
Santo, anunciar e ser testemunha da mensagem de Cristo. E tal como o sentido
vocacional missionário e evangelizador é dos mais difíceis de acolher, também
esta passagem do evangelho de S. Marcos é das mais duras para a nossa
fragilidade como cristãos, face à sua exigência de compromisso com Cristo e a
Igreja.
O outro aspecto prende-se com as primeiras linhas da sua
mensagem.
No seu texto refere que “As
primeiras comunidades cristãs não organizavam a expansão missionária, porque
tinham uma viva consciência do seu dever. Todos os seus membros em Cristo se
sentiam em missão evangelizadora. A sua vida e testemunho faziam que cada dia
crescesse o número dos que acreditavam e pediam o Batismo (At 2,42-47). A
preocupação dos Apóstolos e seus imediatos sucessores foi fundar, entre os
pagãos, pequenas comunidades de crentes, irmãos na fé, conscientes do seu dever
missionário. Depois, durante séculos, a fé foi-se transmitindo na família, de
modo pacífico, mas perdeu-se o ardor de fazer nascer novas comunidades cristãs”.
Permita-me, D. António Marcelino, usar estas suas palavras
para exemplificarem a minha opinião sobre a missão evangelizadora de cada um de
nós, cristãos. A perda do sentido e espírito de comunidade, da vivência em
Cristo e do testemunho de fé, das primeiras comunidades cristãs, é um dos
maiores desafios de reconquista para Igreja pós-conciliar e, de todo, conseguido
até agora.
E os tempos que vivemos de uma profunda crise económica,
social e cultural só “beneficiam” e potenciam que as comunidades vivam, no seu
seio, em favor dos que mais precisam, um verdadeiro espírito de missão e
evangelização. E, naturalmente, desta forma, poder-se potenciar muitas mais
vocações missionárias no sentido evangelizador, pastoral ou de congregação.
Por Cristo, com Cristo e em Cristo.
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