domingo, 22 de dezembro de 2013

"Epístola" de um crente ao seu Bispo (5)

Porque a vida também se lê…
Caro D. António Francisco
O Texto do Evangelho da liturgia de hoje, do 4º Domingo do Advento (Mt 1,18-24), leva-nos a uma curiosa e interessante reflexão.
Com o aproximar do Nascimento de Jesus (o ponto alto do advento) são vários os textos bíblicos que misturam as realidades do Antigo e do Novo Testamento, recordam as profecias do advento e salvíficas (a chegada do Messias, o Filho de Deus, …). Mas o de hoje tem uma particularidade. Depois do anúncio do Anjo à Virgem Maria, da visita de Maria à sua prima Isabel, faltava a referência a alguém muito especial e singular neste “processo” adventista: “por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria. E Se fez homem.” (dizemos nós no Credo, aliás uma das orações mais ricas do catecismo da Igreja).
E é neste contexto que surge a particularidade. Em relação à Virgem Maria, que na sua humildade e serviço a Deus, aceitou como missão divina conceber, por força do Espírito Santo, e dar à luz o filho de Deus, o seu papel é perfeitamente compreensível: é a Mãe de Jesus, por força do mistério da Divina Trindade, é também a Mãe de Deus, a Mãe da Igreja e a Rainha dos Céus. Acompanhou todo o percurso de Jesus Cristo, desde que o concebeu até à sua Morte, Ressureição e subida aos Céus (“onde está sentado à direita do Pai”). Mas… e em relação a José? Sendo que Jesus já teria Deus como Pai, que papel reservar a José? Não seguiu o percurso de Cristo na Terra, “desapareceu” da narrativa evangélica após o nascimento (a visita dos Reis Magos), mas a sua breve história não merece ser tão secundarizada, nem marginalizada. À época, todos os desenvolvimentos teriam sido mais que suficientes para desencadearem um processo de rejeição social extremamente grave. Bastava, para tal, que José se tivesse negado à missão que Deus lhe tinha destinado. Mas José não soube/quis dizer “não”. Antes pelo contrário. Soube aceitar, mesmo com o sofrimento, o seu papel, proteger a família e proporcionar todas as condições (sociais, culturais e religiosas) para que nada prejudicasse a vinda do Messias. Mais… não só assumiu as suas responsabilidades como noivo e marido, mas assumiu o compromisso para com Deus: não ter receio dos desígnios de Deus, cumprir o seu papel e dar ao filho de Maria o nome de Jesus que significa “Jahwéh salva”. Um “sim” de José que significa a livre aceitação dos desígnios de Deus, o papel que cabe a cada um no processo de salvação individual e comunitária, e que só a Deus cabe julgar e avaliar a fé de cada um dos crentes (e não crentes). E este “sim” de José faz-me recuar um mês no calendário, até ao passado dia 24 de novembro, dia da publicação da Exortação Apostólica do Papa Francisco: Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho). Um magnífico texto, que serviria perfeitamente de base a um novo processo conciliar, onde o Papa Francisco recoloca a função da Igreja no mundo, devolve a essência da sua missão evangelizadora e redefine a estrutura da Igreja e o papel de cada um dos crentes. Tudo com um único e inquestionável propósito: servir os desígnios de Deus. Um Deus que salva, que perdoa, que liberta, que não exclui, nem condena. Tomara que a Igreja, a “vaticanocêntrica”, aquela mais preocupada com os princípios dogmáticos (que a ela própria criou) do que com a mensagem evangelizador e libertadora de Cristo, soubesse também ela saber dizer “sim” à maneira de José.
Um Feliz e Santo Natal...   Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

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