Repensar a Igreja paroquial...
Está em fase conclusiva (sensivelmente
até setembro ou outubro) uma das partes do processo de reforma administrativa
local, com a fusão/agregação de freguesias. Mesmo não sendo, de todo, um
processo pacífico, a verdade é que ele caminha a passos largos para a sua
implementação.
A sustentação de tal processo de
reforma centra-se na possibilidade de dar escala, dimensão e mais competências
ao poder local mais próximo dos cidadãos (freguesias), para além de uma
questionável necessidade de redução de despesa.
O que seria igualmente
interessante era que a Igreja portuguesa aproveitasse a medida para redefinir,
não só o conceito, como também o mapa “administrativo” e geográfico das
paróquias.
E há várias razões para tal:
1. Sendo a paróquia a base do mapa
administrativo local, ao sustentar o surgimento do conceito de freguesia, faz
todo o sentido que as paróquias se adaptem às novas realidades das freguesias.
2. Nos tempos em que vivemos,
onde escasseiam recursos financeiros, onde faltam disponibilidade para o
voluntariado e dedicação à comunidade, a multiplicidade de pequenas realidades
torna o trabalho pastoral e social da Igreja mais complexo e difícil.
3. Com a falta de vocação
sacerdotal a agregação de paróquias permite um melhor e mais eficaz aproveitamento
dos recursos, nomeadamente dos “poucos” sacerdotes que existem.
4. Por último, com processos de desertificação
de zonas do país, concretamente as do interior, mas mesmo em algumas zonas mais
próximas do litoral, e com o aumento de população em comunidades mais urbanas e
costeiras, é necessário (e, se calhar, urgente) que se repense o mapa das
paróquias na Igreja.
Mas tal como diz D. António
Marcelino em dois artigos publicados no Correio do Vouga nos finais do ano passado (“Freguesias
e paróquias, um problema e uma oportunidade” e “Repensar
para renovar as paróquias”), para além de todos estes elementos apontados
(aos quais se juntam alguns dados estatísticos: 4368 paróquias, sacerdotes com
várias paróquias a seu cargo pastoral, disparidade entre o número de habitantes
e o número de paróquias, em vários arciprestados ou dioceses), há ainda um
outro elemento que importa referir e valorizar neste processo. Esta seria igualmente uma
excelente oportunidade para se reformar o papel das paróquias enquanto Igreja:
seja pelo reforço do papel do pároco pelo seu ministério eucarístico ou seja
pela valorização do papel dos leigos como impulsionadores das comunidades e dos
valores do Evangelho (na família, no trabalho, no ensino, na sociedade). É
chegada a altura para a Igreja questionar-se e perceber que este “é o momento
para se entender que a Igreja de Cristo não é [só] clerical mas Igreja do Povo
de Deus, nos seus carismas, movimentos e presença viva no mundo”.
Daí que a questão que D. António
Marcelino levanta seja muito pertinente. Ao fim de tantos séculos é chegada a altura
de alterar o paradigma e «em vez de perguntar “qual é a tua paróquia?” deverá
ser questionado “qual é a tua comunidade de fé e de Eucaristia?”».
Por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Por Cristo, com Cristo e em Cristo.
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