segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Monólogos com o meu Bispo - na fé e na vida (1)

Repensar a Igreja paroquial...
Está em fase conclusiva (sensivelmente até setembro ou outubro) uma das partes do processo de reforma administrativa local, com a fusão/agregação de freguesias. Mesmo não sendo, de todo, um processo pacífico, a verdade é que ele caminha a passos largos para a sua implementação.
A sustentação de tal processo de reforma centra-se na possibilidade de dar escala, dimensão e mais competências ao poder local mais próximo dos cidadãos (freguesias), para além de uma questionável necessidade de redução de despesa.
O que seria igualmente interessante era que a Igreja portuguesa aproveitasse a medida para redefinir, não só o conceito, como também o mapa “administrativo” e geográfico das paróquias.
E há várias razões para tal:
1. Sendo a paróquia a base do mapa administrativo local, ao sustentar o surgimento do conceito de freguesia, faz todo o sentido que as paróquias se adaptem às novas realidades das freguesias.
2. Nos tempos em que vivemos, onde escasseiam recursos financeiros, onde faltam disponibilidade para o voluntariado e dedicação à comunidade, a multiplicidade de pequenas realidades torna o trabalho pastoral e social da Igreja mais complexo e difícil.
3. Com a falta de vocação sacerdotal a agregação de paróquias permite um melhor e mais eficaz aproveitamento dos recursos, nomeadamente dos “poucos” sacerdotes que existem.
4. Por último, com processos de desertificação de zonas do país, concretamente as do interior, mas mesmo em algumas zonas mais próximas do litoral, e com o aumento de população em comunidades mais urbanas e costeiras, é necessário (e, se calhar, urgente) que se repense o mapa das paróquias na Igreja.

Mas tal como diz D. António Marcelino em dois artigos publicados no Correio do Vouga nos finais do ano passado (“Freguesias e paróquias, um problema e uma oportunidade” e “Repensar para renovar as paróquias”), para além de todos estes elementos apontados (aos quais se juntam alguns dados estatísticos: 4368 paróquias, sacerdotes com várias paróquias a seu cargo pastoral, disparidade entre o número de habitantes e o número de paróquias, em vários arciprestados ou dioceses), há ainda um outro elemento que importa referir e valorizar neste processo. Esta seria igualmente uma excelente oportunidade para se reformar o papel das paróquias enquanto Igreja: seja pelo reforço do papel do pároco pelo seu ministério eucarístico ou seja pela valorização do papel dos leigos como impulsionadores das comunidades e dos valores do Evangelho (na família, no trabalho, no ensino, na sociedade). É chegada a altura para a Igreja questionar-se e perceber que este “é o momento para se entender que a Igreja de Cristo não é [só] clerical mas Igreja do Povo de Deus, nos seus carismas, movimentos e presença viva no mundo”.
Daí que a questão que D. António Marcelino levanta seja muito pertinente. Ao fim de tantos séculos é chegada a altura de alterar o paradigma e «em vez de perguntar “qual é a tua paróquia?” deverá ser questionado “qual é a tua comunidade de fé e de Eucaristia?”».
Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

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