segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Monólogos com o meu Bispo - na fé e na vida (5)

Uma Igreja mais inclusiva e decididamente mais laica...

Meu caro Bispo, D. António Marcelino.

Ao ler o seu artigo desta semana no Correio do Vouga (“Leigos, uma novidade conciliar?”) não podia ter encontrado, nas suas palavras, uma concordância quase que plena sobre a minha perspectiva sobre o papel dos leigos na missão evangelizadora da Igreja (e na sua estrutura) e a importância que o documento conciliar destaca ao apostolado laical.
Permita-me o destaque ainda para a sua referência (em “Olhos na Rua… A porta estreita que devia ser larga”):
“Dói ver como se põem de lado leigos que apresentam novas iniciativas apostólicas, dão sugestões em grupos e em conselhos de que são membros, mostram a sua discordância ante decisões que saem apenas de uma cabeça…
Outros são marginalizados também porque optam por trabalhar em organizações profissionais ou até partidos políticos em vez de movimentos de Igreja…
Dói, por se teimar, fora do tempo e ao arrepio do mesmo, em conservar uma Igreja fechada e sem futuro. Uma Igreja clerical. Quanto falta ainda para que o Vaticano II esteja cumprido de modo a ser, com uma Igreja renovada, sinal de esperança e de tempos novos?!”
Acrescentado ainda, destacado da parte final do seu artigo (agora é que há quem vá pular das cadeiras ou sofás…):
“Vê-se ainda a dificuldade sentida por muitos leigos no campo que lhes é próprio, devido ao domínio do poder clerical, que aprecia os que trabalham no templo e retira para aí alguns preparados e necessários nas tarefas profanas. Por outro lado, vemos a tentação de fomentar nos leigos uma espiritualidade de cariz clerical ou monacal, fazendo com que alguns, mais formados e informados, reajam a tal orientação.”
Em relação a esta realidade, de facto, falta muito à aplicabilidade, à vivência “mundana” do Concílio Vaticano II. Falta muito a uma capacidade da Igreja se abrir ao mundo e à sua razão existencial: os homens.
Neste aspecto, a segunda leitura da Eucaristia de domingo passado (9 de setembro, 23º Domingo do Tempo Comum - Epístola de São Tiago, 2,1-5) é de uma assertividade extrema neste campo. O Apóstolo Tiago questiona precisamente a forma como olhamos o outro, quando damos mais valor ao “ter” do que ao “ser”, quando nos guiamos e valorizamos as aparências (“A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir acepção de pessoas. Pode acontecer que na vossa assembleia entre um homem bem vestido e com anéis de ouro e entre também um pobre e mal vestido; talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais: «Tu, senta-te aqui em bom lugar», e ao pobre: «Tu, fica aí de pé», ou então: «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés».”)
Não é esta a realidade que se vive na Igreja quando se trata de escolher, de acolher, de responsabilizar?
Meu caro Bispo, quando refere que “os campos de acção apostólica do leigo estão ligados ao que é específico da sua vida: família e educação, meio social, trabalho, convivência e participação cívica”, será legítimo limitarmos o contributo, a vocação, o conhecimento, a capacidade de trabalho, a própria fé, à responsabilidade laical apenas aos “casados, solteiros ou viúvos”? Porque não têm assento no espaço comunitário os divorciados, os separados, os ex-condenados, os ex-presos, aqueles a quem a vida, em determinado momento, por mil e uma razões, traçou caminhos difíceis de contornar, apesar de afastados da mensagem do Pai?! Porque é que a Igreja tem de ser tão exclusiva e tão afastada da realidade plenamente inclusiva da mensagem de Cristo.
Tal como termina a passagem da Epístola de São Tiago: “Escutai, meus caríssimos irmãos: Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam?”
Uma Igreja de Todos, para Todos e com Todos é, definitivamente, uma Igreja mais consistente, mais rica e mais Evangelizadora.
Aliás, como, pelo menos dominicalmente, repetimos: Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

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