O Conclave histórico…
Meu caro Bispo, D. António Marcelino
Por Cristo, com Cristo e em Cristo.
Meu caro Bispo, D. António Marcelino
Chegou a hora
da verdade.
Quando
escrevo estas palavras (por manifesta falta de disponibilidade anterior) já a
primeira votação no Conclave se procedeu, naturalmente (só um “milagre”
alteraria a normalidade do processo) com “fumo negro”. É chegada a
altura dos cardeais escolherem o sucessor do Bento XVI que, de forma
extremamente surpreendente, alterou o normal decurso da tradição e resignou há
cerca de um mês.
Excluindo as
questões de saúde (não duvido que existam mas não foram, claramente, elas que
influenciaram a decisão do agora Papa Emérito), as verdadeiras razões que pesaram
na admirável e respeitosa opção tomada por Bento XVI são as mesmas circunstâncias
que irão marcar a escolha do novo Papa e que estarão presentes no pensamento e
nas convicções dos 114 cardeais recolhidos no Conclave: a reestruturação e
reorganização da Cúria; a questão das finanças do Vaticano; a pressão que
existe sobre a organização clerical (as questões da pedofilia, o celibato, a
sexualidade, o papel das mulheres, etc.); a influência dos grupos de poder
eclesial que resultam na fragilização da Igreja, também, enquanto estrutura
organizacional. Mas acima de tudo, dois dos grandes desafios que a Igreja de
Cristo não assistia desde o Concílio Vaticano II (e para os quais não se preparou,
descurou-se, nem se preocupou): o incremento da Fé (nomeadamente nesta proclamado
Ano da Fé) e a vivência em Cristo Ressuscitado, e a abertura da Igreja ao
Mundo, actualizando-a, transformando-a, tonando-a mais viva, mais interventiva
na sociedade e na vida dos homens.
Não sei se a
primeira se deva sobrepor à segunda ou vice-versa. O que me parece óbvio é que
a Igreja tem vindo a “perder” a Fé e a distanciar-se do Mundo. Os desafios de conseguir
conjugar e conciliar a sua natureza espiritual (a Fé) com a sua missão
evangelizadora (ligação à sociedade e ao mundo) vão ser imensos ao novo ciclo
Pontífice.
Excluindo os “nossos”
dois cardeais eleitores (e, em teoria, elegíveis) não conheço os restantes 112
cardeais reunidos no Conclave e, para ser sincero, não sendo um dos dois
portugueses o escolhido, pela força do Espírito Santo, não tenho qualquer preferência
pessoal, nem regional/geográfica. Até porque argumentos contra ou a favor (os
pós e contras) existirão sempre na escolha que surgir do Conclave.
Se for um
Cardeal europeu escolhido cairá sobre ele o peso de uma Europa velha, degradada,
acabada, que perdeu os seus valores e o seu peso no mundo, que, dia após dia,
vai perdendo fiéis, encerrando paróquias e igrejas, mosteiros ou conventos. Uma
Europa que, mais que perder o sentido da fé, tem vindo a ser preocupantemente
indiferente e apática a Cristo e à sua Igreja. No entanto, também poderá ser
esse o estímulo para um pontificado que tenha a determinação de reconciliar a
Igreja com a Fé dos Homens e do Mundo.
Se for um
Cardeal africano terá a experiência e saberá o que é o sentido do sofrimento,
da dor, da missão evangelizadora que a Igreja deve ter sempre presente. Terá contra
si o fraco peso geopolítico que, por mais que queiramos desvalorizar, é
extremamente importante para a Igreja e para o Vaticano, enquanto Estado que
também é.
Por outro
lado, a escolha de um Papa asiático teria o aspecto positivo da experiência da
vivência em Igreja perseguida, minoritária, com forte missão evangelizadora. Mas
terá contra alguma reticência e desconfiança com que o “Ocidente” ainda olha
hoje, infelizmente, para o “Oriente”.
Resta o
continente americano. Se a zona central e sul tem a seu favor o enorme
crescimento da Fé e de crentes, uma região importante para a Igreja com a sua
experiência libertador (Teologia da Libertação) e profundamente social e
política, a zona norte (Estados Unidos e igualmente o Canadá) traz o peso
geopolítico e a influência que exerce no mundo laico, mas também,
perigosamente, nos meandros mais cinzentos e secretos da Igreja enquanto
estrutura organizacional.
Posto isto,
caro Bispo, resta-nos a única e mais valiosa resignação: que o Espírito Santo
ilumine o Conclave e o colégio cardinalício de eleitores. A Santíssima Trindade
saberá qual o melhor para a sua Igreja, tal como Cristo soube escolher Pedro.
Por Cristo, com Cristo e em Cristo.
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