terça-feira, 12 de março de 2013

Monólogos com o meu Bispo - na fé e na vida (9)

O Conclave histórico…
Meu caro Bispo, D. António Marcelino
Chegou a hora da verdade.
Quando escrevo estas palavras (por manifesta falta de disponibilidade anterior) já a primeira votação no Conclave se procedeu, naturalmente (só um “milagre” alteraria a normalidade do processo) com “fumo negro”. É chegada a altura dos cardeais escolherem o sucessor do Bento XVI que, de forma extremamente surpreendente, alterou o normal decurso da tradição e resignou há cerca de um mês.
Excluindo as questões de saúde (não duvido que existam mas não foram, claramente, elas que influenciaram a decisão do agora Papa Emérito), as verdadeiras razões que pesaram na admirável e respeitosa opção tomada por Bento XVI são as mesmas circunstâncias que irão marcar a escolha do novo Papa e que estarão presentes no pensamento e nas convicções dos 114 cardeais recolhidos no Conclave: a reestruturação e reorganização da Cúria; a questão das finanças do Vaticano; a pressão que existe sobre a organização clerical (as questões da pedofilia, o celibato, a sexualidade, o papel das mulheres, etc.); a influência dos grupos de poder eclesial que resultam na fragilização da Igreja, também, enquanto estrutura organizacional. Mas acima de tudo, dois dos grandes desafios que a Igreja de Cristo não assistia desde o Concílio Vaticano II (e para os quais não se preparou, descurou-se, nem se preocupou): o incremento da Fé (nomeadamente nesta proclamado Ano da Fé) e a vivência em Cristo Ressuscitado, e a abertura da Igreja ao Mundo, actualizando-a, transformando-a, tonando-a mais viva, mais interventiva na sociedade e na vida dos homens.
Não sei se a primeira se deva sobrepor à segunda ou vice-versa. O que me parece óbvio é que a Igreja tem vindo a “perder” a Fé e a distanciar-se do Mundo. Os desafios de conseguir conjugar e conciliar a sua natureza espiritual (a Fé) com a sua missão evangelizadora (ligação à sociedade e ao mundo) vão ser imensos ao novo ciclo Pontífice.
Excluindo os “nossos” dois cardeais eleitores (e, em teoria, elegíveis) não conheço os restantes 112 cardeais reunidos no Conclave e, para ser sincero, não sendo um dos dois portugueses o escolhido, pela força do Espírito Santo, não tenho qualquer preferência pessoal, nem regional/geográfica. Até porque argumentos contra ou a favor (os pós e contras) existirão sempre na escolha que surgir do Conclave.
Se for um Cardeal europeu escolhido cairá sobre ele o peso de uma Europa velha, degradada, acabada, que perdeu os seus valores e o seu peso no mundo, que, dia após dia, vai perdendo fiéis, encerrando paróquias e igrejas, mosteiros ou conventos. Uma Europa que, mais que perder o sentido da fé, tem vindo a ser preocupantemente indiferente e apática a Cristo e à sua Igreja. No entanto, também poderá ser esse o estímulo para um pontificado que tenha a determinação de reconciliar a Igreja com a Fé dos Homens e do Mundo.
Se for um Cardeal africano terá a experiência e saberá o que é o sentido do sofrimento, da dor, da missão evangelizadora que a Igreja deve ter sempre presente. Terá contra si o fraco peso geopolítico que, por mais que queiramos desvalorizar, é extremamente importante para a Igreja e para o Vaticano, enquanto Estado que também é.
Por outro lado, a escolha de um Papa asiático teria o aspecto positivo da experiência da vivência em Igreja perseguida, minoritária, com forte missão evangelizadora. Mas terá contra alguma reticência e desconfiança com que o “Ocidente” ainda olha hoje, infelizmente, para o “Oriente”.
Resta o continente americano. Se a zona central e sul tem a seu favor o enorme crescimento da Fé e de crentes, uma região importante para a Igreja com a sua experiência libertador (Teologia da Libertação) e profundamente social e política, a zona norte (Estados Unidos e igualmente o Canadá) traz o peso geopolítico e a influência que exerce no mundo laico, mas também, perigosamente, nos meandros mais cinzentos e secretos da Igreja enquanto estrutura organizacional.
Posto isto, caro Bispo, resta-nos a única e mais valiosa resignação: que o Espírito Santo ilumine o Conclave e o colégio cardinalício de eleitores. A Santíssima Trindade saberá qual o melhor para a sua Igreja, tal como Cristo soube escolher Pedro.

Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

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