sábado, 2 de novembro de 2013

"Epístola" de um crente ao seu Bispo (2)

Porque a vida também se lê…
Caro D. António Francisco
Este 31º Domingo do Tempo Comum, na sua proposta litúrgica (Lc 19,1-10), apresenta-nos a dimensão plena de um Deus que todos ama, sem excluir ninguém, nem os pecadores, os marginais ou os “impuros”.
No Evangelho (Lc 19,1-10), através deste “encontro” com Zaqueu – pecador, homem injusto, explorador dos mais fracos e dos pobres, fiel seguidor do Império Romano e de César – Jesus revela-nos a verdadeira missão do Filho de Deus e o porquê da sua encarnação na Virgem Maria: Jesus veio até aos homens para os libertar através da salvação. A todos sem excepção, mas particularmente aos que mais precisam: os pecadores, os impuros, os doentes, os pobres.
E é neste princípio que Cristo, através de Pedro, alicerçou a Sua Igreja. Uma Igreja aberta a todos, para, no corpo e sangue de Cristo e no Mistério da nossa Fé (na morte e ressurreição), nos libertarmos e salvarmos.
Quererá isto significar que apenas os pecadores, os impuros, os doentes, os pobres, terão a salvação e serão “bem-aventurados” conforme nos indica o Sermão da Montanha (“Bem-aventuranças”)? Se Deus a todos ama porquê a diferenciação? Porquê e para quê a santidade, a caridade, o cumprimento dos mandamentos e da mensagem de Cristo? Será o “homem puro” menos importante para Deus que o “homem impuro e pecador”, já que enviou o Seu Filho para salvar os pecadores e ter misericórdia para com os que sofrem?
A resposta está no essencial do texto do Evangelho (”Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa”. Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria.). A diferença não está na nossa condição ou comportamento humano mas sim na nossa capacidade para “acolhermos Deus”, com as nossas virtudes, defeitos e pecados, com a nossa rectidão ou impureza. Aliás, as Bem-aventuranças, proclamadas por Jesus no Sermão da Montanha, são disso exemplo: podemos ‘chorar ou rir’, sermos ‘pobres de espírito ou cultos’, ‘sermos humildes ou virtuosos’,  sermos ‘puros do coração ou pecadores como Zaqueu ou o Publicano da liturgia da semana passada’… nada fará sentido se não soubermos assumir, verdadeira e inteiramente, em plenitude, com coragem e frontalidade, Deus nas nossas vidas (Bem aventurados sereis, quando vos insultarem, vos perseguirem, e disserem, falsamente, toda a espécie de mal contra vós por causa de mim). Assim, de corpo e alma, contra tudo e contra todos. Hoje, contra todos os indicadores estatísticos, a diferença já não está no facto de se ser ateu ou agnóstico. A indiferença em relação a Deus e à Fé é muito maior e está mais presente na sociedade. Hoje, ser-se assumidamente cristão é ser-se minoria.
Por outro lado, que Igreja temos hoje como espelho desse amor de Deus para com todos, sem excepção? Temos uma Igreja de todos e para todos? Inclusiva e que não marginaliza? Justa? Equitativa? Com as portas abertas a pecadores e cumpridores, a impuros e justos, aos que sofrem e aos pobres e àqueles que não sentem (ou sentem menos) dificuldades na vida? Ou temos uma Igreja preocupada com os “Fariseus”, os “Escribas” e os “senhores das Leis”, relegando para segundo plano os publicanos, os cobradores de impostos, os pecadores?
Quantos de nós (Igreja) somos capazes de ter disponibilidade interior suficiente para, tal como Zaqueu, querermos subir a um ponto alto e “ver” Deus?
Precisamos de uma Igreja à “imagem e semelhança” deste amor de Deus que salva e liberta, acolhendo a todos de igual forma.

Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

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